Entrei no trem hoje, quase quatro horas da tarde, comendo meu almoço que se resumia a uma barrinha de cereal com Toddynho, na minha frente três senhoras. Uma bem feliz, gordinha, de blusa floriada, chapéu de crochê e de mãos dados com o marido, também gordo e feliz.
A outra bem distinta, de calça social, camisa branca de seda, unhas bem vermelhas e com muitas bijuterias douradas, sentada do lado da gorda e lendo a Veja. A terceira senhora era bem humilde, de chinelos Havaianas, com um casaco e calças de moletom, com uma regata cinza por baixo, que denunciavam a ausência do sutiã, carregava duas sacolas plásticas com latinhas amassadas.
Essa última ficou de pé por um momento, na minha frente, me fulminando porque não dei meu lugar pra ela, até que o moço do lado da senhora distinta levantou e ela se sentou. Ficaram as três me olhando. E eu, olhando para as três.
Elas pareciam ter a mesma idade, mas nada mais em comum. Uma parecia viver numa eterna lua de mel, falava com o marido o tempo todo, sorrindo muito. A outra parecia atrasa e ocupada demais para prestar atenção no que se passava, mas era visível que sentia e se incomodava com a presença da velha com as latinhas do seu lado, que pouco se mexia e tinha um olhar vazio, parado no ar.
Fiquei pensando em qual tipo de velha irei me tornar. Se eu desencalhar muito tarde, posso me deslumbrar, casar e acabar como a primeira. Se continuar só pensando no meu umbigo, provavelmente fico como a do meio. E se eu não voltar para terapia corro sério risco de ficar como a terceira.
Porque a gente não sabe o que nos espera ali na frente, na curva da estrada, na esquina, no final da escada rolante... Assim como não sei que tipo de jovens aquelas senhoras foram. Parece que casar sempre foi o sonho da primeira, que ser bem sucedida era tudo o que a segunda queria, embora ela não parecesse muito feliz e catar latinhas, com certeza, não estava nos planos da terceira.
Mas o que será que aconteceriam com elas? O tal marido podia ser na verdade um amante, por isso aquela alegria exagera. A sisudez da segunda poderia ser fruto de um câncer recém descoberto, de uma viuvez precoce, da perda de um filho e não de um conhecimento exagerado que torna as pessoas difíceis. E a terceira pode ter ganhado na mega-sena no sorteio desta noite.
1 comment:
Ameiii o texto! Quando eu estudava no Centro da cidade, ficava sentada num dos bancos do Terminal de Ônibus e me perguntava sempre sobre as pessoas que eu "analisava". Será que é isso? O que será que tal fulano já passou nessa vida? E blá blá blá...
Beijocas Rê!
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