Wednesday, March 17, 2010

Guns n' Roses - o show

Gostar de Guns n’ Roses é praticamente tradição da minha família. Cresci ouvindo essa banda por causa das minhas primas, adolescentes no inicio da década de 90, auge da banda. Eu, uma criança de 6, 7 anos sabia cantarolar versos de Patience e November Rain... Sabia quem era Slash e aquele cantor loiro que corria de um lado para outro do palco, com shorts de lycra e bandana na cabeça.

As paredes da casa da minha avó continham várias inscrições com as letras AXL e eu sabia o motivo. Meus tios sempre foram fã do Guns. Na minha fase MTV, não perdia um especial deles. Lembro do Axl no último Rock in Rio, dele gordo e desengonçado e da minha tia Cristina, berrando na frente da TV, que tinha visto ele, lindo, em 1992. E outro dia meu afilhado de 10 anos foi lá em casa me pedi o cd do Guns. É tradição de família!

Por isso, era óbvio que eu iria no show do Guns n' Roses, que rolou na terça de madrugada, no estacionamento da Fiergs, em Porto Alegre. Enquanto as longas quatro horas de atraso se arrastavam, eu e os milhares que estavam lá, já estávamos crucificando o Axl, o Guns, a organização, a chuva no Rio, que causou todo o atraso aqui, pois tiveram que reconstruir boa parte do palco.

E eu pensava em escrever sobre a falta de respeito com os fãs, a demora, a forma física do Axl, a péssima organização, a fila quilometrica, o preço absurdo da água (R$ 8,00!), a cancelamento do show da Tequila Baby e a apresentação medíocre da Rosa Tatuada.

Eu cheguei lá por volta das 16h, a abertura dos portões que seria às 18h, aconteceu às 20h. E surpresa: havia um batalhão terminando de montar o palco, pois vários equipamentos não inham chegado por causa da chuva no Rio, que derrubou o palco e de um acidente com o caminhão que trazia a estrutura, em São Paulo.

E o tempo passava, 20h, 21h, 22h e nada. O povo reclamando, com dor, cansados... Muita gente veio de longe, falei com pessoal de Santa Maria, Passo Fundo, Pelotas, Florianópolis e Uruguai. Pouco antes da meia noite, a banda gaúcha Rosa Tatuada entrou no palco, informou que o seu guitarrista e a Tequila Baby já tinha ido embora, que cantariam três músicas para honrar o rock gaúcho.

Nos 30 minutos desta quarta-feira, estava subindo no palco o Sebastian Bach, ex-vocalista do Skid Row, que fez um baita show. Aliás, ele continua igual, em ótimo forma física, foi super simpático. Foi engraçado o seu esforço para falar em português (sempre se desculpando pelo atraso) e o tombo que caiu...

Depois de uma hora de Sebastian, às 1h50, o Guns entrou no palco. E naquele momento eu percebi meu texto seria outro, as dores sumiram, o mau humor das pessoas deu lugar a uma empolgação que fez todo mundo pular até às 4h15 da manhã de uma terça-feira.

Quando o Axl subiu no palco eu percebi que a longa espera valeria a pena. Ele não é mais o mesmo, anda só com a camisa fechada, não usa mais shorts de lycra e sim, parece um senhor cinquentão. Mas era o AXL que eu estava vendo e ouvindo. Aquela voz rasgada estave bem próxima, ele ainda faz a sua típica dancinha, embora esteja um pouco duro, ainda corre, embora se canse mais rapidamente.

Esse senhor é a Axl da minha infância, das minhas primas, dos cds, dos discos, das histórias que eu ouvi da família toda. Eu entendi porque eu encarei sozinha uma indiada dessas, com direito a todas as arguras que uma fã passa. Fila enorme e no sol, horas em pé, com fome, com sede, com vontade ir no banheiro, empurra-empurra no show, segurar máquina-bolsa-celular-binoculos-ainda-pular-e-cantar tudo junto e feliz da vida...

Sim, queria que o Slash estive ainda no Guns, e o Duffy também. Mas essa noite de março foi histórica, eu vi uma banda que pensei que nunca veria. Eu vi minha infância. Uma trilha sonora da adolescência. Eu vi um mito.

Eu vi gerações diferentes chorarem quando ele tocou e cantou November Rain. Eu vi 30 mil pessoas explodirem com Welcome to the jungle. Eu vi o cansaço dar lugar a empolgação. Eu vi pessoas arrepiadas com os riffs de Sweet Child O´mine.

Eu vi pessoas com a certeza de que aquilo era um momento único. Era uma vez só na vida. Eu vi o show da minha vida. As horas de atraso não eram nada para quem esperou anos por esse show!

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