Sexta-feira foi minha última aula de dança na Arte e Equilíbrio, escola onde dancei por quatro anos. A escola vai fechar, todas as turmas, exceto as de dança de salão, já encerraram as atividades. Dificuldade com grana, falta de alunos, falta de profissionais, incompatibilidade de horários, falta de incentivo para tudo que envolva a cultura e outras coisas levaram a isso.
Uma pena. Mais do que a escola onde dancei, foi ali que descobri que era capaz de dançar. Lembro a primeira vez que entrei lá, dos quadros na parede, do incenso que tava queimando, da moça que me atendeu, lembro principalmente, que gostei de estar lá. Lugar alto astral. Sai com a certeza que voltaria no sábado para uma aula experimental de dança do ventre.
E tinha certeza que não passaria daquela aula. Afinal, sempre fui dura como uma porta. A certeza continuou quando na primeira aula não consegui fazer a batida lateral (passo básico da dança do ventre), mas algo me fez voltar no outro sábado e me matricular. E já se passaram quatro anos.
Nesse tempo conheci pessoas que amam a dança, aprendi a mexer o corpo, passei a usar expressões típicas de bailarinas, comprei várias sapatilhas, passei a ter calos nos meus pés, dores musculares e me orgulhar disso, aprendi a escutar música árabe, estudar tempos musicais, perdi o medo do palco, fiz várias passagens de palco, me apresentei em vários lugares e percebi que eu não só sei dançar, como amo muito isso. E isso foi fundamental pra mim sair da depressão que me encontrava quando entrei lá pela primeira vez.
Agora vai ficar as lembranças das apresentações de finais de ano, que eram incríveis. Ah, o camarim, a bagunça que eram aqueles camarins, o gelo seco, as luzes, os aplausos, os amigos que eu fiz, a ansiedade da espera na coxia... Eu vou continuar dançando, claro, agora na academia da minha professora de dança do ventre e me apresentado em festivais de dança árabe, como fiz domingo passado.
Eu deixo de ser uma aluna da Arte e Equilíbrio e passo a ser uma dançarina do ventre. Só. Não tenho mais a responsabilidade de representar uma escola, nem a proteção de pertencer a uma. Fica uma saudade, a certeza de que quando eu contar pra alguém como eu comecei a dançar, a escola vai voltar a existir, porque faz parte da minha história.
Em qualquer festival, festa, jantar, evento que eu me apresentar, estará ali, uma aluna da Arte e Equilíbrio. E já que o show acabou, vamos estourar os balões e festejar, porque era isso que acontecia quando as cortinas fechavam e terminava o espetáculo para os expectadores. Para nós, dançarinos, ficava o sabor do dever cumprido, a maquiagem pra tirar e a purpurina que grudava no corpo e nos acompanhava durante dias.
"Você precisa amar a dança para aderir a ela. Ela não lhe dá nada de volta, nada além daquele único momento fugaz quando você se sente vivo" Merce Cunningham
1 comment:
Emocionou mesmo...
Nossa!
Escreveu c mt poesia...
Lindo!
Pena q fechou a escola, mas a artista tem q continuar dando showwwww...
Bjus, te adoro!
;)Robertinha
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