Li a carta que a atriz Fernanda Torres escreveu para o seu pai, o ator Fernando Torres que morreu recentemente, e está postada no blog da Martha Medeiros. Fernanda conta que seu pai passou os últimos 20 anos com a saúde abalada por causa de um derrame cerebral que o atingiu em 1986, só que não foi diagnosticado. Ele esqueceu o texto no meio de uma peça, acharam que era apenas a memória. Mas era um AVC e Fernanda conta como isso prejudicou a vida de um homem muito ativo.
Minha mãe teve um derrame, nem um pouco leve, em 1985. Como disse Fernanda, numa época que a neurologia engatinhava. Foi numa quarta-feira de cinzas, depois de ter pulado o melhor carnaval da sua vida, como ela mesmo define. Eu estava lá, embora não lembre... Minha mãe estava grávida de mim, de três meses.
Por isso passou praticamente toda a gravidez no hospital, entrou em coma, o caso era de risco para ela e para mim. Uma das primeiras cirurgias computadorizadas do Brasil (numa época que começavam a falar em computadores), foi realizada na cabeça dela. Foram feitas várias transfusões de sangue quando a AIDS assustava mais que a inflação.
Meu pai vendeu o carro, a casa e o pequeno comércio que tinha para conseguir pagar todo o tratamento que durou anos. Dessa época, vieram os cabelos brancos dele, eu escuto as lembranças de toda a família, vejo as fotos de mulher me segurando no colo com os cabelos raspados, uma enorme cicatriz na cabeça e um grande sorriso.
A mãe que conheço, sim, ficou seqüelas, mas é muito ativa. Reclama da vida e gostaria de poder usar salto alto. Tem senso de humor e volta e meia fala: “meu Deus, ninguém espera que eu fosse tá viva depois de tanto tempo. Então eu tô no lucro.” Aliás, um senso de humor que eu herdei e que segundo ela, ficou mais manso e leve depois de tudo o que aconteceu.
Eu não sei o que causou um derrame cerebral numa moça de 26 anos, grávida do seu primeiro filho. Nem num ator consagrado, em cima de um palco. Só sei que minha mãe teve sorte e eu, mais ainda.
2 comments:
Como é bom se surpreender sempre com a vida né.
Sorte tem a tua mãe mesmo. E mais sorte tem tu, de teres como mãe uma pessoa que dá valor à vida.
Poxa, Renata... Me arrepiei, aqui. Baita história, a sua, da sua mãe e da sua família!
Parabéns!!
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