Wednesday, May 28, 2008

O diabinho e o anjinho

Às vezes eu tenho certeza que eles são amigos íntimos e ficam rindo da minha cara o tempo todo. Tá, eles podem até não concordarem um com o outro, mas que tiram uma onda legal da minha cara, ah tiram! E eu sempre escuto as risadinhas no meu ouvido. O pior é que um deles, sempre tem razão.

Quando estava na pré-escola e chorava o tempo todo no portão da escolinha já ouvia eles. O anjinho: “Não chora, teu pai já vem te buscar.” E o diabinho: “Chora, chora muito, que tu chama a atenção e ainda faz a caridade de atrapalhar a aula dos outros.” “Não diz isso. Ela tá chorando porque se sente sozinha”. “Que nada, ela tá chorando porque foi chamada de língua enrolada. Ou melhor de líncua enrolata!” E assim a coisa seguia, eu chorava e eles, os coleguinhas e até os vizinhos da escolhinha, riam.

Mais tarde, em festas de famílias. O anjinho: “Fica mais um pouco, tu tá gostando.” E o diabinho: “Isso aqui é medíocre. Nunca se esqueça: você não gosta de coisas medíocres!” “Fica, se diverte. Teus pais tão gostando. Melhora essa carinha!” “Boa menina, já tá todo mundo perguntado o que você tem!” Assim eles seguiam e assim eu acabei com muitas festinhas de família.

Na adolescência. O anjinho: “Aceita o convite pra festa.” E o diabinho: “Lá vai ter um monte de gente e você não gosta de gente, de tumulto...” “Vamos, vai ser bom. Quem sabe você até beije na boca.” “Ótima piada! Ela beijar na boca, hahahahaha.” Assim eles seguiam, assim o tempo passou e não me lembro de muitas festas na adolescência, nem de muitos beijos.

Hoje em dia. O anjinho: “Pra quê tu vai fazer isso, se amanhã ele não vai nem olha na tua cara.” E o diabinho: “Porque ela gosta, porque sexo é bom”. “Não faz. Tu sabe que depois só fica o vazio”. “Que vazio?! Se tá vazio, dá de uma vez!” Depois, além do vazio, tenho que agüentar a discussão deles e a ânsia por um telefonema que eu sei, nunca vem.

Sempre é assim. Eles ficam fazendo cabo de guerra comigo! Na psicóloga é uma loucura, cada um fala mais que o outro e o que eu precisava dizer, sempre fica para a próxima sessão. De noite, eles falam, falam, falam, eu penso, choro, escuto, choro, penso, escuto, choro e choro, só não durmo. Acordo péssima e quando me olho no espelho, adivinha: mais vozes, mais discussão, mais opiniões contrárias.

Nesse momento eles estão em pé de guerra. O anjinho: “Tua mãe tem razão, tu escreve muito bem.” E o diabinho: “Ai, Teu Deus, escreve nada. Só se acha!” “Fica quieto, escreve sim, tem talento.” “Talento!? Adoro tuas piadas! Isso tá uma porcaria. Tu sabe né, guria? Para de escreve e me escuta!” “Isso, escreve, escreve e não dá bola...”

Assim eu vou escrevendo e escutando esses dois que saíram sei-lá-da-onde e vão me acompanhar até-não-sei-quando. Depois, daqui um tempo, a gente vai se abraçar, como velhos amigos, olhar para isso tudo e dar muita, mas muita risada. Teve um deles, não lembro qual, que falou: “Se não pode com o inimigo. Junte-se a ele.” É o que faço e assim, ora ouvindo um, ora ouvindo o outro, eu dou boas risadas. O máximo que pode acontecer é eu acabar louca, rindo sozinha.

Saturday, May 24, 2008

Oração

Nem sempre eu sou generosa e rezo pelos meus irmãos. Eu rezo é pelo meu umbigo e pelo o umbigo de meia dúzia de pessoas que eu gosto muito.

Rezo para entrar na calça justíssima que adoro usar. Rezo para Arroba nunca deixar de abanar o rabo quando me vê. Rezo pelo dinheiro das festas e para meus amigos entenderem quando eu surto e vou embora no melhor da festa.

Rezo para que no almoço de domingo, minha opção vegetariana não vire discussão na família. Rezo para que meu irmão vá pra casa da namorada o final de semana todo, assim a gente evita várias discussões desnecessárias. Rezo por uma carreira bem sucedida e alguns livros publicados.

Rezo para que os negrinhos que eu como nunca se transformem em quilos. Rezo para que meus amigos lembrem-se de mim e que não esqueçam de me convidar para qualquer programa, mesmo sabendo que posso até aceitar, mas antes vou fazer o maior drama. Rezo para que tenha sol no domingo e que a grana da Redenção esteja seca.

Até quando peço pelo outros, estão pensando em mim. Rezo para que as dores no joelho da minha mãe passem e que meu pai nunca perca a bondade que tem. Rezo para que meu chefe esteja de bom humor.

Rezo para ter tempo para terminar de ler o livro que quero. Rezo para acordar em algum país europeu o mais breve possível. Rezo para aquele idiota me enxergar como um ser humano e não apenas um corpo. Rezo por um prêmio da Mega-Sena. Rezo por mais feriadões. Rezo por um bronzeado que dure mais tempo.

Mas no final, antes de dizer “Amém”, eu peço para ele me perdoar pelo egoísmo e durmo tranqüila. Porque sei que estou perdoada.

Friday, May 16, 2008

Ali

O sol tava tão bom que eu só queria ficar ali. Era frio, mas o sol me esquentava e me dava uma impressão tão boa, acolhedora e ali, sentindo o sol, eu esqueci de tudo o que não gosto de lembrar. Eu não tinha me tornado a pessoa mais feliz do mundo, os problemas continuavam os mesmos, mas tinha o sol.

Aquele cheiro era tão bom. A aparência do macarrão tão apetitosa que eu daria a vida para comer a comida da minha avó mais uma vez. Eu era uma criança tímida e sem amigos, mas sempre tinha a casa da vô para me esconder e ao mesmo tempo, me libertar.

Aqueles shows eram tão bacanas e eu saia de lá tão leve, que às vezes penso que um show de punk rock é melhor que terapia. Qualquer calça rasgada servia! O all star, velho, nunca me incomodava e a roda punk era a libertação total. Sempre tinha um que gritava: “Duda, nos purifica!”. Era fácil se purificar naquela época.

Ele me abraçava sempre que me via. E abraçava apertado, um abraço de urso, para me mostrar que ele era tão forte quanto os heróis que via na TV. E eu me achava o máximo. Mas as crianças crescem, inclusive os afilhados. E eu adoro quando ele me chama de “dinda Rê”, porque eu volto a me sentir o máximo, mesmo sem abraço apertado.

A risada foi tão intensa que eu não sabia mais se chorava ou se ria. O corpo doía tanto, que parecia que tinha feito milhares de abdominais. Por um momento esqueci de toda a solidão e desejei a eternidade, de preferência com aquela dor na bochecha de que quem riu demais. Às vezes é tão fácil ser feliz.

Wednesday, May 14, 2008

Salve Anne

Eu tinha uns 9 anos e estava na casa da minha tia. Ela e minha mãe conversavam algo que não me interessava. Sozinha na sala, olhei para o livro na estante: “Contos do Esconderijo”. Hum... Peguei. Gostei da capa, do desenho de uma folha seca na contracapa. Abri. Lembro exatamente a primeira coisa que li: “Sempre gostei de ouvir conversas de adolescentes”. Hum mesmo. Pedi emprestado.

O livro era da Anne Frank. Na época, não sabia direito o que tinha sido o nazismo, o holocausto, a perseguição contra os judeus. E demorou para eu acreditar que essa tal Anne existiu. Que ficou escondida com sua família, durante anos, num porão. Que morreu num campo de concentração. Que escreveu o livro mais importante da minha vida.

Sim, não é o meu preferido, mas é o mais importante. Porque foi lendo “Contos do Esconderijo” da Anne Frank que descobri o que um livro pode ser. Mais, descobri um mundo novo. Percebi que lendo conheceria histórias incríveis de gente mais incrível ainda. Que os livros eram sim, um outro mundo! Porque foi lendo Anne Frank que comecei a questionar o mundo. E nunca mais fui a mesma.

No final de semana passado, olhando a exposição sobre a Anne, que estava na Usina do Gasômetro, pena de quem perdeu! Me lembrei desse dia na casa da minha tia. E de todos os livros que li graças a esse. Obrigada Anne, por tudo que teve que passar para mudar a minha vida, e a de tantas outras pessoas que também se comovem com a tua história.

Pode ser pretensão da minha parte. Mas sem dúvida, esse menina me tornou um ser humano melhor. Pelo exemplo de grandeza e humanidade, quando foi vítima da maior desumanidade da história... O livro? Eu nunca devolvi para a minha tia. E ainda busco as respostas para as perguntas que essa menina colocou na minha cabeça.

Saturday, May 10, 2008

Inconstância

Que inveja do Pequeno Príncipe. Sim, o do livro. Tudo que eu queria era um mundinho pra eu ficar olhando o pôr-do-sol, só que o meu mundinho teria alguns livros para quando aparecesse alguma nuvem na frente do sol...

Queria ser como essas mulheres que passam a semana pensando na balada de sábado. Que gastam uma nota comprando um vestido para a festa. Que não se importam com as filas, com o tumulto e o cheiro de cigarro. Dessas que acreditam que não há nada que uma boa balada não cure. Mas eu não sou!

Por mais que existam praias paradisíacas, todo o velho continente e alguma viagem que a sempre pode surgir. Às vezes eu desejo que aqueles verões que passava em Imbé com a família toda, não acabassem nunca.

Gosto de trabalhar, nunca gostei de gente que não faz nada. Mas tenho saudade do tempo que a minha vida se resumia em dormir até tarde, passar 4 horas na academia e ir para a faculdade duas horas antes da aula, só pra passar em todos os bares onde estariam meus amigos.

Pode ser o momento. Uma formatura eminente, o fim de uma etapa. Um monte dúvida e nenhuma certeza. O fato é que não é aqui que quero estar. É em algum lugar do passado ou em um do futuro! E as pessoas? Essas que estavam lá, anos atrás? E as que ainda vão fazer parte da minha vida? Por que não estão aqui, agora?

E esse buraco no estômago e o nó na garganta, que parecem as únicas coisas constantes que tenho na vida? Não sei se me perdi em algum momento ou se ainda nem me achei.

Thursday, May 08, 2008

Esse texto já está velho

Os meios, mais do que nunca, são a extensão do homem. Sim, Marshall McLuhan estava certo, e isso há alguns bons anos atrás. Imagine o que ele falaria hoje... Que estamos quase copulando! Homem e máquina. Máquina e homem. E ao invés de humanizarmos as máquinas, estamos cada vez mais mecânicos.

Estendemos a mão e temos o celular de última geração que nesse exato momento já ficou ultrapassado. Na outra, há o palm top. O notebook. A máquina digital. O MP4, MP5, daqui a pouca teremos o MP69. E haja mão para tudo isso! E haja cabeça para tanta informação, que na grande maioria das vezes, não sabemos nem de que lado veio. Um USB para baixar informação inútil seria bem útil. Será que já não existe e eu ultrapassada, não sei?

E tem que ter papo para tantos amigos no orkut... Todo mundo fala junto, todo mundo deixa um alô, um bom findi... Mas quem escuta? Isso é uma conversa ou um monólogo enfeitado com emotions? Deletamos as pessoas como deletamos as fotos que não gostamos. E tem tempo que eu não pego uma foto (de verdade) nas mãos.

É a lei do mais forte. Estamos sendo dominados pelas nossas próprias invenções. Não sabemos lidar com nossas crias, que só criamos para tentar ocupar a nossa vida e deixar de fato de viver. É uma falsa vida. Superficial, está tudo superficial. Eu, você, teu cachorro, teu vizinho, a sociedade.

Mas tudo passa na velocidade da luz, e cada vez mais rápido. E temos a impressão de que estamos sempre no vácuo. Vazio...

Wednesday, May 07, 2008

Mais uma musiquinha ou o refrão dela!

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa


Sábio Cazuza!