Saturday, June 30, 2007

Cores diferentes, beleza igual

Reportagem feita por mim e pela querida amiga Ana Carolina Rodrigues para a revista Primeira Impressão, da Unisinos, lançada no dia 29 de junho de 2007. O tema da revista é "Contrastes". A nossa pauta, sobre Loiras X morenas.

Sansão era um homem de força descomunal, que derrotou exércitos inteiros, cujo segredo estava em seus longos cabelos. Apaixonado, ele sucumbe aos carinhos de Dalila, que o trai. Dalila corta as madeixas do guerreiro enquanto ele dorme e o faz perder todo seu poder. Ao contrário dessa lenda, os cabelos não são geradores de força, pois são formados por um tecido morto, de uma proteína chamada queratina, a única função é aquecer e proteger a cabeça do sol. Mas é incontestável o poder que concedemos aos fios que cobrem nossas cabeças.

Os cabelos contribuem para uma imagem clássica ou radical, podendo ser repletos de significados, como, conceitos de ousadia, juventude, liberdade, sedução e poder. Pintar os cabelos de acordo com os próprios desejos é uma maneira de deixar transparecer a identidade, revelando o que a pessoa almeja transmitir com a coloração escolhida. Ao longo da história, algumas mulheres se tornaram referência pela cor de suas madeixas. Na década de 40, o mundo viu surgir o furacão loiro chamado Marilyn Monroe, que, após trabalhar como modelo, estrelou vários filmes, inclusive o sugestivo “Os homens preferem as loiras”, de 1953. A estrela platinada morreu no dia 8 de agosto de 1962 e ainda hoje seu nome representa um sinônimo de beleza, sensualidade e glamour. Já na década de 50, do outro lado do atlântico, o mundo conhecia a bela morena italiana Sophia Loren, uma das maiores atrizes que o cinema já teve. Com mais de 70 anos, a estrela sempre é referência quando se fala em morenas bem sucedidas. A mídia continua dividindo suas beldades entre loiras e morenas. O Brasil, em 1969, conheceu a brejeirice da morena Sônia Braga, mesmo ano que a platinada Vera Fischer conquistava o título de Miss Brasil. Ambas as atrizes são, ainda hoje, ícones da beleza brasileira.

Num país onde a grande maioria das mulheres nasce morena, as gaúchas são consideradas as mais belas do país, tanto que na maior parte dos eventos de beleza, como concursos de misses, as gaúchas acabam, no mínimo entre as finalistas. Vale ressaltar que no Rio Grande do Sul, devido à colonização germânica, é fácil encontrar loiras naturais. A modelo e estudante de jornalismo Carolina Tremarin, 19 anos, de São Leopoldo, se orgulha de seus longos cabelos loiros naturais e costuma fazer luzes para clarear ainda mais os fios. “No inverno, escureço dois tons, mas não deixo de ser loira”, explica. Carolina acredita que o fato de ser loira colaborou para iniciar sua carreira de modelo, há dois anos e meio, mas não foi o mais importante: “Foi todo o conjunto”. A modelo não esconde sua opinião sobre as brincadeiras que agridem as mulheres por causa da cor do cabelo: “É um absurdo!” Esse preconceito ou brincadeira, certamente se intensificou quando Gabriel, O Pensador lançou a música Loraburra, em 1993. Para ela, grande parte dessas piadas é provocada pelas próprias loiras famosas. “As celebridades loiras de hoje não são referência para ninguém!”

O gosto pela cor natural

Para a estudante do 3º semestre do curso de Moda da Feevale, Valentina Mussillo Baich, morena, 18 anos, a cor natural de seus cabelos “é tudo”. Ela diz que no mercado da moda há muita variedade de tonalidades nos cabelos, mas sua opinião é que quanto mais natural for à cor do cabelo melhor, pois quando o assunto é a diferença entre as mulheres loiras e morenas, tudo deve ser pensado. “Os especialistas pensam em tudo antes de mudar a tonalidade do cabelo de uma modelo ou cortá-lo. Acredito que é muito difícil uma mulher que é oriental ou negra ficar bem ao pintar o cabelo com uma tonalidade de loiro forte.” afirma. A morena que defende a cor de seu cabelo salienta que gosta muito das mulheres loiras e admite que elas fazem muito sucesso no país. Conforme Valentina quando o quesito é a atenção dos homens, a loira chama muito mais atenção do que a morena. Para ela, o estereotipo de mulher loira é raro e essa raridade é que atrai os homens. “O Brasil é um país dominado pelas morenas. A mulher loira, olhos azuis chama atenção dos homens por ela ser rara aqui. Se colocarmos uma mulher morena ou negra em países típicos de loiras, as morenas serão a sensação”.

Valentina não acredita muito que exista rivalidade entre loiras e morenas, para ela, são apenas brincadeiras e que o importante é a mulher se sentir bem. Sobre as exigências nas passarelas da moda, Valentina afirma que a grande característica da modelo está relacionada com a diferença e modelagem que os profissionais fazem com elas. “É muito melhor trabalhar com uma modelo crua, ou seja, que não tenha muitas pinturas no cabelo. O principal é que ela priorize a cor natural.”

A beleza de cada cor

Para o fotógrafo Marcos Pereira, 33 anos, que trabalha na área desde o ano de 2002, a ocasião determina quem faz mais sucesso. “Trabalho no carnaval de Porto Alegre e Canoas. As morenas e, principalmente as mulatas, fazem a alegria dos foliões”, explica. O profissional acredita que as morenas têm o corpo mais desenvolvido e escultural, por isso brilham mais na avenida do samba. Já nas passarelas, as modelos mais procuradas, segundo Oliveira, são as loiras, por terem mais o biotipo e magreza que esse mercado exige. “Toda mulher é bela, seja ela negra, loira ou morena. O que eu priorizo quando estou tirando fotos é o carisma de cada uma”, finaliza.

Michele Rodrigues, 28 anos de São Leopoldo, é proprietária do salão de beleza Cor e Corte, localizado no campus da Unisinos. Michele nasceu com o cabelo castanho. Aos 15 decidiu ser loira e começou a clarear os cabelos. “Já fui loira, branca! Tinha que pintar meu cabelo uma semana sim, outra não”, lembra. Após 13 anos, loiríssima, como se definiu, em abril de 2007, ela resolveu escurecer suas madeixas. “Estava enjoada!” Michele pintou o cabelo de castanho e garante que muitas pessoas acharam. Para ela, os outros estranham porque é mais comum uma mulher querer ser loira: “Aqui no salão, de cada dez meninas, 7 querem clarear os fios.” A empresária lembra que as loiras precisam ter um cuidado constante com seus cabelos, principalmente, retocar a raiz, já as morenas, muitas vezes são naturais e não precisam se preocupar tanto.

Nos anos que foi loira, Michele afirma que ouviu inúmeras piadinhas e brincadeiras, mas nunca levou a sério nenhuma. No mesmo dia que escureceu os cabelos, ela viu duas loiras no estacionamento da Unisinos, procurando o cartão para liberar a cancela do portão. “Na hora que passei pelo guarda falei: ‘Só podiam ser loiras.’ Já tava me sentindo morena”, conta aos risos. Michele, que já viveu os dois lados da moeda, não sabe afirmar qual faz mais sucesso. “Acho que depende muito do homem”. Ela afirma que vai permanecer mais um tempo morena e depois voltará a clarear os cabelos: “Meu namorado quer que eu faça luzes, mas vou esperar mais um pouco, quero passar o verão morena”, planeja.

Piadas e cores de cabelos à parte, os cabelos estão diretamente ligados com a auto-estima, pois fazem parte da identidade pessoal. De acordo com a psicóloga Daniela Soletti Musachio, 28 anos, de Canoas, a auto-estima é fundamental, pois se caracteriza pela imagem que o sujeito tem de si mesmo. A psicóloga salienta que a mulher, desde muito jovem, é estimulada pelo meio em que vive a se preocupar com a beleza estética, e a mídia acaba influenciando, não só pelos comerciais com mulheres bonitas e atraentes, mas também de novelas, filmes e seriados. “Se uma mulher famosa tiver, por exemplo, cabelos muito escuros e estiver em destaque naquele momento na mídia, algumas pessoas podem associar este sucesso à cor dos cabelos, optando, às vezes, pela mudança de coloração, identificando-se com esta pessoa e a idealizando como modelo a ser seguido”. Em alguns casos, esta estimulação acaba influenciando uma extrema valorização, isto é, numa busca incansável por um ideal de beleza. “Uma pessoa que dá muita importância para aspectos externos, imagina que todo seu potencial será notado através de sua aparência, caracterizando um perfil muito superficial. Ela tem uma percepção de que somente será aceita pelos outros se seus cabelos estiverem lhe agradando, de acordo com seus ideais de beleza. Muitas vezes fazem vários sacrifícios para chegar a este objetivo”, completa.

As pessoas, por diversas influências, julgam atributos como inteligência, sensualidade e até mesmo a fidelidade de uma mulher pela cor dos seus cabelos. “A visão de sensualidade freqüentemente é acompanhada pelo estigma da falta de inteligência. É comum que mulheres loiras, por terem a imagem mais associada à sensualidade, sofram com piadas e comentários pejorativos relacionados com a cor do cabelo”, declara. Daniela, adepta das luzes para clarear seus cabelos castanhos, finaliza dizendo que o importante é se sentir bem e feliz consigo mesmo.

2 comments:

Anonymous said...

Preto, castanho, loiro, ruivo, curto ou comprido...bonito é (na minha opinião)cabelo (de mulher) bonito.
Robin

Anonymous said...

Como as pessoas são preconceituosas, no mundo em que vivemos as pessoas estão perdendo sua essência pois "os padrões de beleza" estipulados pela mídia ou por pessoas que se consideram capazes de julgar e definir o que fica bem ou não em outra pessoa é extremamente rídiculo. As pessoas tem que usar tudo o que a agrada o que a faz se sentir bem...Não concordo com a idéia de que as loiras do sul sâo as mais belas...O que existe é um padrão imposto por pessoas que "se acham capazes" de julgar e discriminar pessoas...seja pela cor do cabelo ou pele, roupa...
No mundo De hoje a maioria das pessoas perderam sua personalidade, tudo o que fazem tem que estar de acordo com a opinião de alguém que considera capaz de definir o que é ou não correto ou bonito...
Deixo uma pergunta:
O que é mais importante o bem star e a liberdade ou o bem star padronizado?