Thursday, April 28, 2016

Nirvana

"Na bruma leve das paixões/Que vem de dentro
Tu vens chegando/Prá brincar no meu quintal"
Anunciação – Alceu Valença

Ele entrou na minha vida no final de setembro, veio com a primavera e a Vênus de libra. Na verdade, ele já estava lá anos antes. Quieto, sério, inteligente, cheio de mistérios com os cachos que escorriam pelas costas e as opiniões bem colocadas com a voz doce.

E eu já havia reparado nele anos antes. O fato é que gosto de pensar que ele veio com a primavera, talvez não estivéssemos maduros antes e só então ele passou a fazer sentido. Foi com metáforas sobre viagens e me prometendo vinho (que ainda não bebemos) que me ganhou.

Com ele, eu conheci um menino com quem posso conversar sobre um amigo nosso, um príncipe que foi embora do seu planeta numa revoada e ama uma rosa... Além disso, posso fazer qualquer pergunta que ele sempre vai procurar uma resposta.  Amo pessoas que sabem tratar tudo com seriedade, das coisas mais leves as mais improváveis.

Com ele, conheci um militante com quem posso conversar sobre a dialética marxista e a conjuntura. Eu o respeito muito e até ouvir os piores prognósticos dos lábios dele parece música.

Com ele, conheci também um homem que me dá um prazer inimaginável. Que cada vez que me beija faz parecer que estou num sonho, que encaixa perfeitamente em mim e faz com que eu durma confortável mesmo passando a noite toda enroscada nele.

Quase todos os dias, ele me surpreende ou eu descubro alguma coisa sobre ele e isso deve ser como o universo testemunhando o nascimento/morte de uma estrela.  Porque sempre que descobrimos um detalhe no outro é a morte de um mistério e o nascimento do brilho de uma convicção.

Gosto da maneira como ele ilumina algumas questões em mim e me faz encarar as coisas de outro ângulo. Não tenho dúvidas que essa história colabora muito para o meu processo evolutivo, há uma vontade absurda de ser sempre melhor para aproveitar a minha primavera.


Eu que já visitei alguns fundos de poços, penso que ele é o meu nirvana. Não a banda, mas o termo sânscrito que significa o estado de libertação atingido pelo ser humano ao percorrer sua busca espiritual. Um estado de paz, de plenitude, de compreensão e aceitação, aquela expansão da consciência que nos faz entender que tudo está no seu devido lugar. A primavera chegou no momento certo para eu aprecia-lá.  

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