Um único texto
compacto (nem tanto como gostaria). Tem lado A e lado B, além dos
extras.
Lado A
Esse mês foi incrível,
cheio de sensações e consciência dos momentos preciosos. Começou muito feliz
no feriadão com gente querida, negrinhos e balões na festa de um aninho do
San, filho do Júnior e da Andiara. Estar com eles sempre é bom, agora com o Santiago
é melhor ainda, dá para acreditar que um dia o mundo vai ser melhor.
Mas antes da festa
teve momentos de muita tensão e superação. Na sexta-feira de manhã, fiquei sozinha
com o San. Um bilhete tinha as instruções de como fazer a mamadeira e se
possível trocar a fralda, que só teria xixi.
A batalha já começou com a dificuldade para abrir a mamadeira, que coisa
dura! O tempo passava e eu pensando no que ia dizer quando a minha prima
chegasse: ele tá faminto porque não achei o botão que abria a mamadeira...
Seria vergonhoso.
Até que deu certo. Coloquei o lindo deitado e dei a mamadeira para ele, que toma sozinho
(não tenho parâmetro para comparar, então acho muito adulto ele tomar o próprio mama
com tanta autonomia). Como o San é muito esperto e depois da batalha com a
mamadeira, se deu conta que ele era o ser dominante da situação e resolveu
tirar proveito.
Fui lavar louça
sempre conversando com ele que tossia, eu saia correndo e quando chegava perto,
ele sorria o sorriso mais safado e continuava mamando, fez isso diversas vezes.
Sim, um bebê de um ano tirou sarro da minha cara. Fase 1 superada e eu me achando, se até aquele momento tudo tinha dado
certo, ele não havia chorado, só me restava trocar a fralda, só iria ter xixi
mesmo.
Seguia conversando, explicando que a situação podia ser normal para
ele, mas para mim era tudo novidade, então que pegasse leve com a adulta aqui.
Peguei uma fralda nova e não achei nem uma indicação do lado que fica na
frente... Inteligente que sou, me dei conta que era só olhar na que iria
tirar. Abri a fralda. NÃO tinha só xixi!
Era pegadinha dos
meus primos, só podia. Claro que eles sabiam que não teria só xixi. Eles
deveriam estar filmando tudo só para rir da minha cara para o resto da vida.
Vingança do meu primo por eu sempre lembrar o que ele fez no sofá da minha casa
com 12 anos. E ainda usaram o filho como comparsa.
Pensei em fechar a
fralda e deixar assim. Mas falar o que para minha prima: não tive coragem ou era
tanta merda que me assustei? Seria mais vergonhoso que não conseguir abrir a
mamadeira. E o San estava lá, lindo, brincando com a fralda limpa, balançando
os braços, tentando conversar... Ele não merecia ficar cagado, apesar de estar
tirando com a minha cara pela segunda vez.
Troquei a fralda.
Acho que dei prejuízo para o meu primo, pois quase acabei com os lenços
umedecidos. Minhas unhas até que não atrapalharam. O San estava lindo e limpo, era
só colocar a fralda limpa, claro que devido a tensão do momento não vi o lado
que fica na frente. Foi no instinto, mas pensei que tivesse errado porque eu
fechava de um lado, o San abria do outro. Examinei de todas as maneiras
possíveis e não achei outro jeito de fechar... Era só ele, tirando sarro de mim
pela terceira vez. Fase 2 concluída com
sucesso.
Depois, o San se distraiu um pouco com um programa de TV
(esses de dona de casa que passam pela manhã) onde tinha um pessoal dançando.
Ele foi dançar também e caiu sentado, choramingou. Tive a brilhante ideia de
dançar, ele parou e começou a sorrir. Mas eu parava de dançar, ele ameaçava a
chorar, até que numa das vezes ele se entregou e riu. Era mais uma tirada de
sarro da minha cara, já perdi a conta de quantas foram. Medo do que esse guri
vai fazer comigo no futuro.
Em seguida, a Andiara chegou. Todos se alegraram,
principalmente eu. Sobrevivemos! Deu medinho sim, mas fiquei feliz pela
confiança, acho que ninguém da família deixaria os seus filhos comigo, além
deles. Se eu nunca ser mãe, ao menos troquei fralda uma vez na vida.
Fiquei nervosa também para fotografar o aniversário. Meu
primo além de fotógrafo é virginiano, deve me criticar bastante mentalmente, já
que é muito educado e não fala para mim. Ele me explica tudo direitinho, eu
faço cara de quem entendeu e seja o que Deus quiser. Torci muito para os confetes
caírem em câmera lenta e garantir mais alguma foto. No final, eu achei confete
até dentro do sutiã.
Óbvio que aproveitei muito o feriado. Adoro estar com eles,
sempre rimos muito, até das desgraças. E ainda vamos rir muito desses dias. Voltei
leve para casa, apesar da orgia gastronômica.
Na outra segunda, uma semana depois, teve o show do Backstreet Boys. Fiquei uma
pilha, super ansiosa, nem consegui trabalhar. Mandei mensagem para o meu chefe
explicando que meu namorado imaginário estava em Porto Alegre e eu tinha que
aproveitar. Ele respondeu: ok, nem sabia que tinha namorado. Não perdi tempo
explicando.
Não imaginava que ficaria tão mexida assim. O amigo Alexandre
foi comigo, começamos a beber na fila imensa, estava muito frio. Mulheres em
torno dos 30 anos era o que mais tinha, a maioria com faixas na cabeça,
camiseta, cartazes, todas falando no Nick, AJ, Howie, Kevin e Brian como se
fossem velhos conhecidos. E eram. Eu usei a mesma faixa do show de 2001, já desbotada,
é verdade, mas ainda se lê Nick.
O show foi perfeito,
todo mundo cantando e dançando com anos atrás. Foi uma apresentação bem
mais simples do que a de 2001, em São Paulo, quando eles estavam no auge. Nunca
mais havia escutado as músicas deles, mas cantei todas, as letras estavam
arquivadas num lugar muito especial, da memória e do coração.
E que sorte a minha realizar um sonho pela segunda vez. Impossível
não comparar a vida da adolescente que fui e da adulta que me tornei. As
pessoas que faziam parte do meu convívio, os sonhos, as mudanças... Falávamos
disso enquanto eu o Xande voltávamos para casa e para a vida real...
Lado B
A maldita falta de
tempo para escrever os textos acima é tão normal que eu nem lamento mais.
Apenas sigo o baile neste ritmo acelerado, tentando manter a cabeça o mais
distante das pressões externas. E esse lado B fala disso, se no começo do mês
estava num grau de paz bastante elevado, no meio do mês isso não aconteceu.
Coincidentemente, na terça depois do show, fiquei triste,
não sei se foi a nostalgia das lembranças, mas passei boa parte do dia chateada
– o que piorou depois de uma reunião no trabalho. Na quarta, meu ex namorado
(que não foi nada legal comigo) me procurou, trazendo a tona mágoas que
demoraram muito para deixar de doer. Quinta, tive dificuldade de escrever no
meu caderninho da gratidão (sim, eu tenho um). Na sexta, a possibilidade de
algo que gostaria muito me animou, mas me deu medo de estar criando expectativas. Sábado ouvi que era mal-amada, fui dormi
chorando e perguntando por que sou mal-amada.
Domingo me esforcei
para melhorar o astral mesmo com uma pontinha de tristeza dessas que a gente
não sabe de onde vem. Segunda, fiquei bastante chateada por algo que queria não
rolou (o que havia me animado no sábado). Chorei, chorei e chorei até esvaziar.
Na terça arrastei minha chateação por aí, inclusive na testa, já que não sei
disfarçar nada. Porém, quando voltava da aula de criação literária lembrei que
não havia jeito, enchi algumas páginas do meu diário com o mais puro drama e
orei para isso ser só tristeza e passar logo.
E já passou. Mas
liguei todas as luzes vermelhas, fiquei com medo de ser o começo de um filme
que já vi e revi algumas vezes. Fazia tempo que eu não passava por uma
sequencia de dias tristes e para quem já teve depressão, tristeza prolongada é sempre um sinal de
alerta.
Extras
Neste momento que escrevo são perto das 8h de domingo, 28 de
junho, estou num hotel em Piratini, cidade no sul do estado que foi a primeira
capital da Guerra dos Farrapos. Aqui moraram Bento Gonçalves, Garibaldi e Luigi
Rossetti (que criou o jornal O Povo), vim para conhecer esse cenário tão
importante para a história gaúcha com os meus colegas da oficina de criação
literária.
Nos divertimos muito no trajeto, na recepção pelo Secretário
de Cultura do município, na guia vestida de Anita, no jantar maravilhoso regado
a vinho, declamações de poesias e música
francesa, nos autógrafos que distribuímos (sim, teve isso também). Bebi vinho e
cachaça até agora pouco e lembro de tudo (até do Porão Sertanejo), acordei com
o barulho de uma porta batendo e peguei o note para revisar o texto. Porém, lembrei
que amanhã seria o aniversário da vó Helga. Amanhã eu termino, em homenagem a ela. Agora
vou dar uma volta e passar na missa, a turma toda ficou de ir.
A única vez que peguei o texto ontem, me emocionei. Cedo vi
meus tios e primas falando da falta que a vó faz, mesmo depois de 20 e poucos
anos. Conversei com uma prima sobre o
gosto da comida e do perfume que ela usava que às vezes vem nos visitar. De
noite, falei com a mãe sobre ela e enchemos os olhos d’água. O pai lembrou que
ela adorava uma caipirinha e disse que a vida seria melhor se ela estivesse
aqui.
Reviso esse texto
agora, durante o trabalho no último dia do mês. No céu, tem Júpiter em
conjunção com Vênus, em Leão. Essa é uma configuração astral muito boa, de
ampliação, de colheita. Olhando para trás, apesar da tristeza, eu estive
exatamente onde queria estar, em todos os momentos. Para o futuro, as três
viagens planejadas e já acertadas, me animam. Às vezes, quando peço para ser merecedora do afeto e da
coragem de alguém, me dou conta que os nossos desejos não podem nunca nos roubar a presença
do momento. Eu só quero estar presente em mim.
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