Eu fiquei meses pensando na possibilidade de ter um gato e neste
período, sempre ponderava que seriam cerca de 15 anos. Depois de decidida fui
em busca do meu gato preto de olho amarelo. O Galileu veio tão pequeno que nem
conseguia tomar água sozinho, antes dos saltos precisos, acompanhei os pulinhos
desengonçados e o miado era tão fino que mal escutávamos. Vi desbravar meu
quarto, a casa, o pátio, o telhado, a vizinhança e a rua. Mas claro, que a
primeira conquista foi a minha cama, já que nunca deu bola para a dele.
Gostava de imaginar tudo que poderia acontecer na minha vida em 15
anos: mestrado, doutorado, casamento, viagens, filhos, as mudanças, as
permanências, os perrengues e as bênçãos. E quando tivesse com 40 e poucos anos,
iria me lembrar que com 28 eu fui até a zona sul de Porto Alegre buscar o meu
gatinho, que antes de ser Galileu, chamei de Gaya, que usava uma coleira com
guizo, que tinha pelinhos na ponta das orelhas, que era muito peludo, que
gostava de tomar água na pia... Perceberia ele em vários momentos da minha
vida, ronronando, engordando, apostando corrida comigo, me impedindo de ler o
jornal, suspirando (eu não sabia que gatos suspiravam). O Galileu estaria lá,
enquanto a minha vida mudaria e envelheceríamos cúmplices.
Sempre achei tristes esses gatos de apartamentos, os seres que
querem gozar de sua liberdade devem ir ver o mundo. Ele queria e eu nunca o
privei, saia e voltava quando quisesse (porque sempre reconhecemos o lugar para
onde devemos voltar). O único cuidado foi castrá-lo e a minha única preocupação
sempre foi atropelamentos (seria intuição?), sabia que de cachorros, gatos
brabos e pessoas, ele se safaria. Um dia, vi o Galileu atravessando a rua (uma
avenida bastante movimentada), todo lindo, dono de si, livre. Não seria eu que
o impediria de viver isso. Sabia do preço que poderia pagar e que agora, pago.
Porém, nunca imaginei que seria tão rápido, não foram nem nove
meses com o meu gatinho e isso foi cruel. Fico me perguntando como ele não viu
a roda? Onde estava a atenção dele? Em algum inseto, numa folha, num lixo
jogado no chão... Como todos os gatos, o Galileu era muito curioso, mas era o
MEU gato. Um lorde, um galã, minha mini pantera negra e selvagem e por isso,
dói. Por outro lado, acho irônico ele ter vindo e ido em 2014, ainda mais para
mim que nunca fui fã de gatos. Refletia muito sobre por que quis ter um felino
e gostava de pensar que esse era um momento de transição, mais maduro, leve e
com consciência. Agora percebo que até para as mudanças internas, o meu gato
preto (e lindo) é uma referência.
Algumas pessoas me criticaram, que ele deveria ter sido criado
preso, só dentro de casa. Com algumas discuti sobre o conceito de amor e
liberdade. E não me arrependo, ser vivo é para viver e eu que aguente no osso a
saudade. Pior seria, estar chorando daqui 15 anos e me culpando por não ter
deixado o Galileu livre. Até a cocota aqui de casa vive com a gaiola aberta.
Lembro de uma noite, depois dele estar elétrico e mexer em tudo e
bagunçar tudo, ele deitou do meu lado e suspirou e eu entendi aquele suspiro
como “essa vida é tão boa.” E isso me consola, porque tenho certeza que a breve
vida dele foi muito boa, cheia de amor e aventura. Como ele se divertiu na
noite do dia 24, o Galileu adorava gente, casa cheia, bagunça.
Curte o céu dos bichos meu gatinho, que deve ser bem melhor que o
dos humanos. Pula bastante de nuvem em nuvem, balançando teu sininho e quando
achar a vida muito boa, suspira, que neste momento eu vou estar aqui neste
mundo cão, sorrindo porque lembrei de ti. Um dia, quando eu te encontrar, vou
te abraçar por mais de 15 anos, só para tirar o atraso e não adianta miar,
porque eu não vou soltar.
2 comments:
Renatinha eu nem sabia que tinhas blg, a lu e o tiago que me mostraram. Já chorei com o que postou no face e agora me deparo com isso. Lindo!!!!!!
Bkj, Graça
das dores e alegrias de se ter um bichano!!!
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