Infelizmente esse texto não é meu. Infelizmente, porque ficaria muito orgulhosa de escrito algo tão simples e sábio sobre relacionamentos, sempre um assunto complexo.
Vou ficar devendo o sábio. Peguei esse texto no face de um amigo paulistano, que se deu o trabalho de digitar tudo, pois tinha encontrado a obra numa "revista de mulherzinha" na sala de espera de um consultório médico.
Independente de como vai a nossa vida amorosa, acho difícil não concordamos com o texto, ou boa parte dele. É lindo. Boa leitura.
Eternas são as nuvens
Para onde vai tudo que se vive? Para onde vai a mágica de
certos instantes? A comunhão que se viveu, a cumplicidade de dividir tempo,
espaço, experiências inaugurais? Para onde vão o carinho, a parceria, a
entrega? Para onde vai o conhecimento, pessoal e intransferível, que se tinha
do outro? Para onde vai o que só vocês viram e experimentaram: o nascimento de
um filho, a morte de um amigo, a notícia daquele emprego, o assalto, a compra
da casa, o diagnóstico ameaçador, a noite no acampamento, aquele show em
Londres? Para onde vai a consciência que você tinha, de, com apenas um olhar,
saber se ele estava feliz, deprimido ou ansioso? Para onde vai a absoluta
intimidade que se teve com o outro?
Acredito que isso tudo fica em algum lugar interno, como um site, uma espécie de nuvem onde armazenamos tudo o que vivemos. Tão reais e etéreos como o iCloud, temos os nossos weClouds, que podemos acessar ou que nos acessa, algo que fica preservado, e que, mais do que nos fazer lembrar coisas, nos acolhe e ratifica. O weCloud guarda o essencial, o que ficou depois da ruptura, da tempestade, o rescaldo de um tempo, um a dois permanente, que sobrevive aos acordos rompidos, às bênçãos desfeitas, às juras esquecidas. No weCloud, ficam o sumo, o substrato, a força do projeto um dia compartilhado. No weCloud, ficam o afeto espontâneo, o registro das intenções sinceras, da vontade de acertar e de tudo o que foi verdadeiro.
Acredito que isso tudo fica em algum lugar interno, como um site, uma espécie de nuvem onde armazenamos tudo o que vivemos. Tão reais e etéreos como o iCloud, temos os nossos weClouds, que podemos acessar ou que nos acessa, algo que fica preservado, e que, mais do que nos fazer lembrar coisas, nos acolhe e ratifica. O weCloud guarda o essencial, o que ficou depois da ruptura, da tempestade, o rescaldo de um tempo, um a dois permanente, que sobrevive aos acordos rompidos, às bênçãos desfeitas, às juras esquecidas. No weCloud, ficam o sumo, o substrato, a força do projeto um dia compartilhado. No weCloud, ficam o afeto espontâneo, o registro das intenções sinceras, da vontade de acertar e de tudo o que foi verdadeiro.
Os relacionamentos podem acabar, mas não o vivido. Não se
trata de memória, nem de detalhes tão pequenos de nós dois. Não se trata de
viver no passado, nem de não aceitar os fatos. Não se trata de sublimar dores e
porradas ou se refugiar num mundo alegrinho de autoajuda e negação. Não se
trata de dourar a pílula e contar para si uma história diferente. Trata-se de
vida bem vivida que não pode nem deve ser perdida. Tudo o que vivemos e
sentimos vira acervo, fonte, ferramenta; é nosso para sempre.
Quando estamos com alguém, somos, em alguma instância, uma
pessoa única, que só aquele companheiro conhece. Maria é para João uma Maria
que ela nunca será para Pedro, que é um Pedro para Maria, que nunca será o mesmo
para Ana. Maria poderá ser muito mais feliz com Pedro do que com João, mas ela
terá sempre sido a Maria do João e haverá sempre um lugar onde Maria e João se
reconhecerão, mesmo que nunca mais se encontrem.
Somos o que vivemos, e não podemos abrir mão disso. É
fundamental que cuidemos da nossa história, que saibamos acolher nossas
experiências com generosidade e entendamos que certas vivências, emoções e
descobertas foram únicas e estarão sempre produzindo algum efeito em nós.
Todo fim de relacionamento pede tempo. Tempo para o luto,
para a saudade, para a cura, para o distanciamento, para a neutralidade, para o
recomeço. Existe um caminho a percorrer que vai do fundo do poço ao fórum, do
desespero ao terapeuta, da perplexidade à aceitação, do abandono à libertação.
Há que fazer faxinas: roupas, livros, fotos, palavras mal ditas, mágoas,
decepções. Há que separar papéis, propriedades, planos, sonhos. Há que separar,
acima de tudo, o trigo do joio, o passado do futuro, o extinto do eterno. Há
que guardar as coisas que não cabem em malas nem cofres, aquilo que não se
quantifica nem se elenca em formais de partilha e declarações de renda. Há que
amar o perdido.
Só quem tem passado tem futuro. Escolher a bagagem que se
carrega é decisivo para seguir adiante. Entre fardo e combustível, asas e
correntes, você decide. Entre salvar e deletar, você decide. Conjugar sem medo
o pretérito imperfeito para viver o futuro do presente.
Depois de um tempo, as dores passam... Sim, elas se cansam
de nós e, se somos saudáveis, nos cansamos delas também, seguimos em frente,
voltamos para nós mesmas, dispensando o que não nos serve mais, garimpando
minúsculas preciosidades, recolhendo luminosidades, cheias de preguiça de
sofrer, prontas para recomeçar, de novo, mais uma vez.
Um belo dia você se pega pensando naquele nós, que deixou de
existir, sem a fisgada de saudade, nem ressentimento, nem raiva. Você pensa com
serenidade. Você pensa não mais no ex, mas no companheiro de vida: sai o ex,
fica o amigo.
É quando você o abraça no velório do pai e sabe como ele
está se sentindo e ele também sabe que você sabe como ele se sente, e isso é
muito íntimo e confortante e está lá, na tal nuvem, para sempre.
É quando você recupera em DVD seus filmes em Super 8 e fitas
em VHS, com todas as fases e faces queridas da sua vida, e faz uma cópia para
ele, porque sabe que aquilo tudo é parte da vida dele também, e você se sente
grata por compartilhar.
É quando você recebe um presente sem cartão: um disco de
vinil de um show que você foi com um certo namorado. Pronto, lá está o para
sempre: os anos 70, a avidez de descortinar o mundo, a larica, a revolução, o
incrível mundo das primeiras vezes, compartilhado com entrega e inocência. O
cartão é desnecessário, pois só você e ele sabem quem vocês eram naquele
dia-tempo e o que significou estar ali naquele concerto de rock.
É quando você encontra numa caixa esquecida rolhas de
champanhe e sementes de romã, que fazem você lembrar quem você era e como você
se sentia quando estava totalmente apaixonada por aquele cara na Itália.
É quando você escreve um livro sobre maternidade e manda em
primeira mão para o pai dos seus filhos, porque ninguém mais do que ele sabe
como você ficava quando estava grávida, pois só ele viu seu estado de graça e,
talvez, antes mesmo de você, ele viu você virar mãe.
Lá estão vocês, no weCloud, sócios de experiências
transformadoras, parceiros de sonhos, realizados ou não, amigos que cresceram
juntos, cúmplices dos pequenos crimes contra o amor, vítimas dos mesmos
desgastes da convivência, ungidos por bênçãos comuns, coautores e personagens
do mesmo livro.
Maria não é mais a mesma que foi com João, mas, para ser a
Maria que está com Pedro, ela teve que ser a Maria do João, e João, para ser o
companheiro de Ana, teve que ser antes o de Maria. Somos o que nascemos e o que
escolhemos viver, somos o que ganhamos, o que perdemos, o que boicotamos e o
que nunca alcançamos.
É muito libertador fazer as pazes com nossa história. Do que
nos serve ter rombos na linha do tempo? Negar, bloquear, tornar inacessíveis as
lembranças, impossibilitar um resgate saudável do vivido? Do que nos serve
chamar ex-companheiros de falecidos ou equívocos? É injusto conosco. É
empobrecedor. Temos essa mania de achar que só o que dura para sempre é um
sucesso.
Durabilidade nunca foi sinônimo de segurança, assim como o efêmero não
é sinônimo de fracasso. Uma jaula é segura e nem por isso um lugar feliz, da
mesma forma que viagens são fugacidades maravilhosas que se perpetuam dentro de
nós. Nenhuma história é vã. Nada é. Nossa alma-memória, aquela que nos
identifica, define e referencia, é como uma colcha de retalhos; alguns retalhos
são mais bonitos que outros, mas todos são necessários.
Amar o perdido deixa confundido o coração (Drummond) porque é amar o intangível, o que, não sendo mais, ainda resiste, insiste e ressignifica o que antes tinha outro nome e valor. Amar o perdido é reconhecer que muito tempo, energia e as melhores intenções foram investidas, empenhadas e depositadas numa relação, num incrível voto de confiança no outro e na Vida. Sim, mesmo os grandes erros e as falências retumbantes têm histórias comoventes e belas. Amar o perdido é entender que nada se perde.
Amar o perdido deixa confundido o coração (Drummond) porque é amar o intangível, o que, não sendo mais, ainda resiste, insiste e ressignifica o que antes tinha outro nome e valor. Amar o perdido é reconhecer que muito tempo, energia e as melhores intenções foram investidas, empenhadas e depositadas numa relação, num incrível voto de confiança no outro e na Vida. Sim, mesmo os grandes erros e as falências retumbantes têm histórias comoventes e belas. Amar o perdido é entender que nada se perde.
Amar o perdido só é possível quando você volta para a casa
dentro de você. Melhor que dar avolta por cima, é voltar para si mesma. Nessa
hora você se sabe inteira, apaziguada, de bem com sua história. Aí, você
entende o weCloud e lembra de Quintana dizendo: eternas são as nuvens, e você
se comove com a certeza de que um certo para sempre existirá, pois as coisas
findas, muito mais que lindas, essas ficarão (CDA).
É isso, não fica o que é lindo. Fica o que finda. Fica de um
jeito real. Não fica lindo só porque finda. Fica, porque finda, e, quando
finda, fica o que foi de verdade, o que nunca finda.
As coisas findas
ficam. Perdidas, talvez, mas para sempre nossas. Eternas, como só as nuvens
podem ser.
No comments:
Post a Comment