Li outro dia que o Facebook aumentou o conhecimento dos jovens sobre a literatura brasileira. Fiquei pensando sobre isso e se for verdade, esse conhecimento é muito superficial. Pois parece que o número de pessoas que vão procurar as obras dos escritores depois de lerem as frases postadas na rede, é mínimo.
Portanto, esse conhecimento é raso. Alguém pode ser fã do Fernando Pessoa, do Mário Quintana, do Caio Fernando Abreu e tantos outros pelas postagens das pessoas no Facebook, mas nem por isso será um conhecedor da obra desde artista. Textos deixam de ter sentido quando se transformam em frases fragmentadas.
O Caio Fernando é para mim o melhor escritor da língua portuguesa, já li muito ele e sobre ele e, mais de uma vez. Garanto, o Caio Fernando Abreu não é o escritor de auto ajuda como parece nas frases postadas no Facebook. Há levezas, sim, nos contos dele, mas há predominantemente, vida. A vida de um jornalista forçado, de um viajante inveterado, de um astrólogo ateu, de um homossexual aidético, de um homem solitário, de um escritor premiado que se considerava um artesão.
Um ser desses vai muito além do “ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras coisas”. Essa frase dele é a que mais aparece nos murais dos meus amigos. Fico feliz como fã, já que a literatura brasileira sempre marginalizou o Caio e agora graças as redes sociais, ele virou pop.
Mas tem que ir além, os escritos dele são viscerais, há uma loucura consciente que enlouquece, que faz a vida parecer sem saída e ainda assim, leve. “Segura o turbante e vai”, Caio falava para os amigos. Tem que ler e reler O Triângulo das Águas porque não é um livro fácil, os clássicos Morangos Mofados, Os Dragões não conhecem o paraíso, Limite Branco e Pequenas Epifanias. O livro Cartas é uma raridade e lindo. Das biografias, recomendo Para sempre teu, Caio F.
Essas pessoas que postam frases dele, tem que saber que o cara escreveu para o teatro e para o cinema. Que deixou inacabada uma novela infantil sobre galinhas. Que trabalhou para as melhores revistas do país, que traduziu muita coisa, que foi o criador da expressão “saia justa”. Escreveu sobre amor, drogas, sexo, perdas, aborto, homossexualismo, suicídio, solidão e dor como ninguém.
Meu conto preferido é Os Sobreviventes, seguido de Carta Anônima (esse posso ler 3456 vezes que sempre vou chorar) e Zero Grau em Libra. Ele estaria de aniversário agora, começo de setembro, virginiano com ascendente em libra. Grosso modo, um certinho vaidoso, um organizado desequilibrado. Regido por Mercúrio e Venus, só podia dar um artesão das palavras.
Não é a por acaso que tatuei uma frase dele: “Que seja doce...” Esta também é uma frase que vejo seguido no Facebook. É linda, assim sozinha. Mas o verso todo, que não tatuei por ser muito grande, é instigante, termina com “mas não pergunte o que deverá ser doce, posso não saber, pois tudo e tão vago quanto o nada”. Meu escritor preferido morreu jovem, com 48 anos, hoje estaria um cinquentão e imagino que teria uma relação de amor e ódio com as redes sociais e com a orgia tecnológica que a sociedade se transformou.
Encerro esse texto com uma das minhas frases preferidas dele e desejando que as pessoas vão atrás da obra do Caio e não fiquem só nas frases bonitinhas do Face, que apenas confortam, não incomodam. "Exigimos o eterno do perecível, loucos".
1 comment:
Sempre que vejo uma frase do Caio, onde quer que seja, lembro do desejo doce do eu braço.rsrsrs
Tiago
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