Adoro marcas, cicatrizes, tatuagens e outras coisas de pele. Acho que diz muito sobre as pessoas.
Eu carrego cicatrizes no meu seio, que não gosto, pois revelam que eles não são naturais. Minha franja é torta do lado direito, culpa de um redemoinho! Carrego cicatrizes que mostram que tive uma infância normal, cheia de tombos, esconderijos fantásticos e brincadeiras incríveis. Minhas unhas do dedão do pé são tortas, e não adianta a pedicure arrumar, elas duram até a próxima aula de dança. Por causa da meia ponta e da postura necessária em alguns passos. Por causa da tal meia ponta (como de bailarinas), tenho calos e bolhas em baixo do pé. Mas deles eu gosto, mostram que eu sou uma mulher que dança. A minha sobrancelha direita é menor que a esquerda, não, não é um problema genético, é por causa da cicatriz de um piercing que tinha ali e foi acidentalmente arrancado. Fora as minhas tatuagens, que indicam que gosto de carregar outros mundos na minha pele, que não me conformo com o tom monocromático dos seres humanos.
Uma vez eu estava num ônibus, do outro lado havia um senhor, bem senhor mesmo, de cabelo branco e pele toda enrugada. Ele estava com uma camisa de manga curta. E seus braços revelavam inúmeras tatuagens. E isso já tem muito tempo e eu nunca me esqueci dos desenhos que saltavam daqueles braços enrugados. Tinha um bonequinho, desses que qualquer um desenha, de palitinho, só que o bonequinho dele usava um boné. Talvez para um neto... Tinha um clássico tubarão e o que mais me chamou atenção: uma bandeira com uma caveira dentro e um X por cima, como se ele tivesse se arrependido da bandeira com a caveira e simplesmente colocou um X em cima. Não era necessário apagar tudo, apenas sinalizar que a bandeira com a caveira já não era tão importante como fora um dia... Ou não... Vai saber...
Talvez nossas marcas sabem mais de nos, do que nós delas.
1 comment:
Saudade de ler você, saudade das suas idéias e de você!
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