Há dois anos, escrevi três textos sobre
leveza. Estava num período ímpar da minha vida, de muita consciência, gratidão
e, leveza. Depois de tantos anos na batalha silenciosa e árdua, estava vencendo
a minha depressão e me sentia feliz. Hoje, não me sinto feliz. Sou só tristeza.
Já aprendi que são momentos, ciclos, sei que vou voltar a potencializar a bendita
leveza, mas agora preciso dar vazão à tristeza.
Após um 2016 bastante difícil coletivamente,
vivi o pior dezembro da minha vida, me senti sozinha, humilhada, desamparada por fatores internos e externos. Depois de anos, estou vivendo minha
primeira crise depressiva após ser considerada “curada” - sei que isso
é normal, porém sempre tive medo de que acontecesse e ingenuamente, achava que
nunca mais sofreria disso.
A tristeza, bastante potencializada pela
minha natureza depressiva, tem motivo - e um sorriso lindo. Ontem, tomei um
remédio pra dormir, algo que fiz pouquíssimas vezes, e de fato, só queria
dormir, o que não conseguia há três noites, e parar de chorar, o que também não
acontecia há dias.
Sei que a tristeza não é natural dos seres
humanos. Mesmo com todas as coisas que estudo e busco para me ajudar como
terapia, espiritismo, PNL, Gisele Vallin, Arly Cravo, Hélio Couto, Osho, Flavia
Melissa, ainda assim, o caminho da alegria é bastante difícil para mim.
Meu terapeuta fala que é da minha natureza
essa tristeza, essa batida mais densa, pesada. Nunca gostei de ouvir essa
afirmação, mas compreendi o que ele dizia quando fiz o renascimento. Muito das
minhas lembranças intra uterinas são de tristeza, solidão e medo. E a gente trás
tudo isso na nossa mochila.
Houve períodos no ano que acabou que estava
tão feliz e realizada que me culpava. Olhava em volta e via a democracia
atacada, direitos ameaçados, retrocessos... E eu num estágio de felicidade por
estar amando e sendo amada que comecei a me culpar, parecia não ser justo. Hoje, me pergunto se foi neste momento que
deixei o ego tomar conta da situação. Esses últimos dias, foram, também, de
culpa pelo meu fracasso emocional.
Me sinto mal, pesada e cansada. Dói muito,
tenho medo de como vou reagir com o que vem pela frente. Daqui alguns anos
quero ler esse texto com o mesmo distanciamento que li a Trilogia da Leveza,
onde quase não me reconheci. Sou muito feliz e grata por ter conhecido o amor.
Mas hoje preciso acolher a minha tristeza, fruto da minha imaturidade. Preciso
pensar como dar vazão ao amor que há e que não pode ser.
Percebo minha vida como se estivesse no mar,
nadando, nadando para chegar na praia. Houve momentos que coloquei meus pés no
chão, me ergui, consegui aproveitar as ondas, mergulhar, os dias
de sol e as nuvens não me assustavam mais, lavei a alma e foi neste momento que me percebi feliz.
Porém, prepotente que sou, me iludi achando que tinha controle da natureza, então veio uma onda mais forte que me derrubou e com o repuxo, voltei para o alto mar.
Agora estou aqui nadando, nadando, nadando e nadando. O corpo dói, as lágrimas embaçam a vista e as luzes da praia parecem ainda mais
longe do que são. Tem momentos que eu relaxo, pareço boiar e cogito se o melhor
não é deixar a maré me afundar de uma vez, mas então lembro que não posso
desistir... Me debato, volto para a superfície e respiro de novo.
Feliz 2017 para vocês. Vou nadar bastante
ainda. Um dia chego na praia.