Do nada, ela vem. Dentro do metro quando penso que tenho que escrever
sobre o processo criativo. Parece que sussurra no meu ouvido, mas já aprendi
que se racionalizar muito, ela grita. Pior é quando vem no meio de uma notícia
sobre economia que escrevo já com o prazo estourando. Parece que faz de propósito.
Sempre foi assim, desde criança.
Às vezes através de voz, noutras de imagens, de algo que a retina capta
e a alma acha tão extraordinária que tem a pretensão de eternizar. Tem momentos
que uma história fica martelando na cabeça como pingos de chuva batendo numa
lata.
Tem vezes eu tenho que correr atrás dela e apelo para boas leituras para
me inspirar. Até que do nada, ela vem na forma daquela mosca azul que quase
bate em mim, de uma voz, de uma história que alguém conta, de uma manchete de
jornal, de uma lembrança e até da obrigação de escrever um texto.
Sempre tenho que olhar todos os papéis jogados dentro da bolsa, as
mensagens na caixa de rascunhos e os e-mails que envio para mim mesma, ali estão
frases soltas, algumas sem nexos, que insistiram em vir à tona num momento
impróprio, ou trechos de histórias ou textos inacabados.
Geralmente é a noite que organizo meus escritos, ela sai melhor com as
estrelas. Ela sempre sai de algum esconderijo dentro de mim. Paro de digitar e
penso, então ela não vem, ela vai. Se liberta. Tenho que reescrever. Do nada,
ela vai. Como agora, me obrigando a mudar de assunto.