Wednesday, June 15, 2016

Burocracia

Do nada, ela vem. Dentro do metro quando penso que tenho que escrever sobre o processo criativo. Parece que sussurra no meu ouvido, mas já aprendi que se racionalizar muito, ela grita. Pior é quando vem no meio de uma notícia sobre economia que escrevo já com o prazo estourando. Parece que faz de propósito.

Sempre foi assim, desde criança.  Às vezes através de voz, noutras de imagens, de algo que a retina capta e a alma acha tão extraordinária que tem a pretensão de eternizar. Tem momentos que uma história fica martelando na cabeça como pingos de chuva batendo numa lata.

Tem vezes eu tenho que correr atrás dela e apelo para boas leituras para me inspirar. Até que do nada, ela vem na forma daquela mosca azul que quase bate em mim, de uma voz, de uma história que alguém conta, de uma manchete de jornal, de uma lembrança e até da obrigação de escrever um texto.

Sempre tenho que olhar todos os papéis jogados dentro da bolsa, as mensagens na caixa de rascunhos e os e-mails que envio para mim mesma, ali estão frases soltas, algumas sem nexos, que insistiram em vir à tona num momento impróprio, ou trechos de histórias ou textos inacabados.


Geralmente é a noite que organizo meus escritos, ela sai melhor com as estrelas. Ela sempre sai de algum esconderijo dentro de mim. Paro de digitar e penso, então ela não vem, ela vai. Se liberta. Tenho que reescrever. Do nada, ela vai. Como agora, me obrigando a mudar de assunto.