Sempre ouvi que escrevo bem. De muita gente e gente diferente (que
bom!). Na terceira série, a professora me chamou questionando quem tinha
escrito a minha redação sobre a chuva, não sei se ela se convenceu que
realmente tinha sido eu, mas foi a primeira vez que ouvi “você escreve muito
bem.” Minha mãe questionava da onde eu tinha tirado aquilo ao ler algum texto meu e
a resposta sempre era: de dentro de mim.
Na época do vestibular estava em dúvida entre história, ciências
sociais e jornalismo. O fator decisivo foi que gostar de escrever, de contar
histórias, sempre tive certeza que teria prazer em passar o resto dos meus dias
fazendo isso. Durante toda a minha vida escolar (do pré ao ensino superior) meus
textos eram elogiados, lidos e recebiam prêmios...
Numa disciplina do último semestre da faculdade, o professor que
já tinha me dado aula nas matérias de redação disse após fazer a chamada no
primeiro dia de aula: “A Renata tem um dos melhores textos que já li, tem tudo
para ser uma ótima cronista.” Tomara! Meu terapeuta já afirmou que eu deveria
mesmo levar a sério o lance de escrever, pois eu “abraçaria muita gente com os
meus textos.”
E no serviço, volta e meia, depois de alguma matéria publicada,
vem um e outro diretor na minha sala falar que escrevo bem. Teve um, depois de
uma reunião, onde quase nada podia ser divulgado, que disse que eu tirava leite
de pedra. Que seja, escrever é alquimia! Mas é tudo bem separado, a jornalista
está numa caixinha bem organizada. A mulher que gosta de escrever e escreve num mosaico está em outra caixinha, essa bem maior, mais complexa, livre de regras, cheia de sensações e por vezes, bagunçada.
Já vendi redação no colégio, já escrevi poesia, já me inscrevi em
concursos literários, já fiz cartas para a namorada de primo (como se fosse
ele), já criei abertura de mostra de dança e tenho alguns enredos perdidos no
desktop do meu note. Um sobre suicídio, outro para contar a história de um cara que procura uma antiga
paixão e descobre que ela morreu quando fazia um aborto (de um filho dele),
tem também sobre um idoso que no hospital repensa sua vida e resolve contar para os
familiares as “pequenas” atitudes dele que acabaram alterando o rumo da vida de todos e
claro, um enredo realista-fantástico inspirado na minha família.
Escrever é paradoxal. Me alegra, me entristece, me comove, me
move, me acalma, me tumultua. É bem normal, dar risada ou chorar enquanto
escrevo. Elaboro a vida escrevendo, me entendo assim, me traduzo, evito
transbordamentos e repressões desnecessárias. Não sei se um dia eu vou ser
escritora mesmo, mas confesso que gostaria.